Crônica de um encalhe
CRÔNICA DE UM ENCALHE – 24/08/2007
No meu turno da madrugada, O navio navegava tranquilamente no rio Amazonas, em
baixa velocidade pois pegávamos corrente contra o deslocamento do navio e logo
após o vilarejo todo iluminado de Urucurituba Nova, que fica em uma espécie de
planalto na margem direita do rio Amazonas. Como passamos perto do vilarejo deu
prá ver as casas, carros passando, lojas, galpões e uma espécie de cais. O
vilarejo é pequeno e logo acabou e iniciamos a descida em curva da enseada do
Serpa, que antecede a reta de chegada para Itacoatiara onde os práticos do rio
Amazonas desembarcariam e iriam embarcar os práticos que levariam o navio de
Itacoatiara até a atracação ao terminal de Manaus. Às 01:30 horas o praticante
desceu para fechar uma cortina no escritório que jogava luz para fora do navio
atrapalhando a navegação, que alguém havia acabado de deixar acessa. Eu fiz a
marcação do navio pelo GPS, estávamos no meio do canal da enseada do Serpa, onde
fica a ilha do Serpa (ilha do Risco), em frente ao qual há uma pequena ilhota de
nome ilha do Boi no sentido leste-oeste, e fui lá fora, na asa do passadiço de
boreste, apreciar a paisagem, pois o navio passava próximo à margem direita do
grande rio, curveando a mesma. Deliciava-me com o barulho do navio cortando as
águas aparentemente calmas e brilhosas pelos raios prateados da lua, ouvindo
alguns animais norturnos cantando na selva próxima quando de repente ouví uma
tremenda explosão vinda da chaminé seguida de uma grande bola de fogo que subiu
saindo da mesma . A bola de fogo imediatamente se extinguiu e seguiu-se grandes
rolos de fumaça negra para o alto saindo da chaminé do navio e o navio se apagou
por completo e ouviu-se apenas os alarmes sonoros de equipamentos essenciais à
navegação e operação do navio que haviam sido apagados pelo black out
inesperado. Entrei rapidamente no passadiço e encontrei o prático tentando fazer
a máquina do leme funcionar, primeiro pela emergência e nada e em seguida pelo
NFU manual, último recurso de controle do leme e nada também. O leme estava
mortinho e não respondia aos comandos, o barulho dos alarmes era lancinante,
tentei desligar alguns e telefonar para o comandante e nada…os telefones
simplesmente não funcionavam. Tentei o telefone de emergência da praça de
máquinas, o mesmo não funcionava. O navio sem governo aproximava-se
perigosamente da margem direita. Imediatamente o comandante chega ao passadiço e
toma conta do comando e dá as primeiras orientações que o caso requeria. Outros
tripulantes chegaram ao passadiço acordados pelo barulho dos alarmes e pelo
silêncio da máquina morta. As árvores à bombordo do navio vão aumentando de
tamanho e não há nada que a gente possa fazer para evitar isso, pois o navio
continua apagado. Tenta-se fazer o leme funcionar e nada. A máquina também não
entra. Um dos marinheiros sai correndo do passadiço para a proa e larga o ferro
(âncora) de boreste (direita).
A velocidade do navio que já não era alta foi baixando lentamente e o navio
encostando-se na margem direita na curva da enseada do Serpa, próximo à Boca do
Arari, numa localidade conhecida como Tabocal, distante cerca de 11 horas de
navio até Manaus, até jazer imóvel com a proa por bombordo em cima de um pequeno
barranco submerso e a popa um pouco mais afastada. Dez minutos depois do apagão
o navio já estava encalhado na posição de Latitude = 03 graus 13,40 minutos Sul
e Longitude = 058 graus 12,43 minutos oeste. Dava prá ouvir melhor agora o
barulho dos animais noturnos da floresta. Havia alguns barcos apagados e
ancorados ao longo da margem próximo ao navio. Com o navio encalhado o
comandante deu início aos procedimentos de emergência em caso de encalhe para os
quais somos constantemente treinados. Alguns tripulantes foram para a proa,
outros para a praça de máquinas, outros para o centro de controle de carga e
outros ficaram no passadiço. Todos sabiam o que fazer. Com a corrente batendo no
costado do navio o mesmo ia cada vez se aproximando ao longo da margem. A
energia foi restabelecida, uma rápida tentativa de acionar a máquina foi tentada
sem sucesso e os tripulantes da proa deram início às medições de profundidades
ao longo do costado do navio, enquanto outros verificavam possíveis danos no
interior do navio, tanques, compartimentos, combustível, etc. Felizmente não
houve danos internos aparentes, nenhum compartimento foi alagado e o navio
estava depositado parcialmente em cima de um barranco. As medições de
profundidades efetuadas ao longo do costado do navio indicavam que o mesmo
estava um pouco adernado para boreste, isso era um bom sinal, pois as
profundidades de bombordo eram menores que as de boreste, logo indicavam que o
navio estava parcialmente encalhado, apenas na parte da proa por bombordo. A
máquina do leme voltou a funcionar normalmente e com tudo sob controle, por
volta das 03:30 horas o comandante junto com o prático resolveram dar início aos
procedimentos de desencalhe. Primeiro mandam levantar o ferro de boreste, o que
ocorreu sem problemas. Acredito que o lançamento do ferro pelo marinheiro tenha
sido providencial pois pode ter ajudado a proa a não entrar violentamente em
terra por ocasião do encalhe. Nesse momento dirigi-me à asa do passadiço de
bombordo e orei com toda a fé, em silêncio, levantando as mãos a Deus e pedindo
que seus anjos ajudassem a desencalhar o navio. Encostado na porta olhava para
um ponto fixo de uma árvore próxima enquanto o comandante dava as ordens de
máquina a ré, primeiro MUITO DEVAGAR, depois DEVAGAR e notei no ponto fixo os
primeiros centímetros de navio se movendo e gritei , – Tá se movendo!!! MEIA
FORÇA A ré foi dado em seguida. Logo em seguida o imediato, pelo rádio, da proa
também anunciava eufórico e entusiasmado que o navio tava dando marcha a ré,
ajudado pela forte correnteza que vinha pela proa do navio e sentimos quando ele
se desgrudou da lama do barranco e passou a flutuar de novo feliz da vida e
todos nós demos um tremendo pulo e grito de contentamento –
SAIUUUUUUUUUUUUUUUU!!!! o comandante tocou o apito barulhento do navio e os
animais da selva responderam em uníssono, chateados por terem sido perturbados
em seu sono noturno. Acho que eles devem ter gritado – Eiiiiiiiiiiii!!!! Parem
com esse barulho, já passou das 22:00 horas, é hora de silêncio. Nos barcos
próximos, se havia alguém dentro ninguém se manifestou.
Foi acessa a luz do possante holofote de bombordo vasculhando a margem enquanto
o navio se movia a ré e uma chuva forte resolveu nos saudar na saída da margem.
A luz forte do holofote descobriu os olhos brilhantes de um jacaré na margem,
que ora abria e ora e ora os fechava. Na hora em que ele abria os olhos nós
víamos duas luzes fortes como se fosse de uma lanterna. Esse jacaré não parecia
estar muito satisfeito com toda aquela movimentação quebrando a harmonia do
lugar e a sua possível atividade de buscar alimentos.
E lá fomos nós navegando de novo, rumo à Itacoatiara, aliviados e contentes por
volta das 04:00 da manhã. E eu voltei à asa do passadiço e levantei as mãos,
desta vez para agradecer a Deus por ter nos livrado do pior. E na volta ao meu
camarote ajoelhei-me e orei novamente…Deus é Grande!!!!.
Chegamos em Itacoatiara por volta das 06:00 horas, os práticos do rio
desembarcaram e foi dada início a uma avaliação rigorosa das condições de
operação e estanqueidade do navio. Graças a Deus estava tudo funcionando
normalmente e não houve danos. E às 09:50 horas já estávamos levantando ferro
com destino a Manaus onde chegamos às 22:00 horas do dia 24/08/07.
Vale ressaltar a postura e a liderança do comandante do navio que foram
exemplares, e que agiu com dignidade, competência, alto espírito de liderança e
conhecimento, e soube agir com correção e determinação da maneira certa e no
momento certo, seguindo todos os procedimentos que o caso requereu. O imediato
também merece meus parabéns pois soube agir com otimismo e empolgação na hora do
desencalhe incentivando a todos com sua alegria, pelo rádio, num momento tão
tenso. Ao Chefe de Máquinas e seu pessoal que brilhantemente e em tempo hábil
soube fazer as máquinas voltarem a funcionar. E aos outros tripulantes que
também brilhantemente souberam agir de acordo com os ensinamentos que recebem
nos treinamentos. E meus louvores a Deus por ter nos livrado dessa situação.
Pedro Santos Carvalho
CHRONIC OF THE ONE AGROUND!!!
In my turn at dawn, The ship navigated quietly on Amazonas river, in low speed
because we caught chain against the displacement of the ship and soon after the
whole villa illuminated of Urucurituba New, which is in plateau a kind in the
right margin of Amazonas river. As we go pass close to the villa gave to see the
houses, cars passing, stores, wharf sheds and a kind. The villa is small and
soon finished and initiate the descent in curve of the bay of Serpa, who
precedes the straight line of arrival for Itacoatiara where the practisers of
Amazonas river would disembark and would go to embark the practisers that would
carry Itacoatiara’s Ship until the mooring to Manaus’ Terminal. To the 01:30
hours the practitioner went down to close a curtain in the office that played
light outside of the ship muddling the navigation, which someone there was
finish of leting acess. I did the demarcation of the ship by GPS, we were in the
middle of the channel of the bay of Serpa, where is Serpa’s Island (island of
the Risk), in front to which there is an island small isle ox’s name in the
east-west sense, and I was outside, in the wing of starboard gangway, appreciate
the landscape, because the ship passed next to the right margin of the great
river, curveing the same. It delighted me with the noise of the ship cutting the
apparently calm waters and bright by the lightnings silver of the moon, hearing
any animals norturnals singing in the next jungle when suddenly I heared a
tremendous coming explosion of to chimney followed by a fire great ball that
went up going immediately out from the same . The fire ball extinguished and
followed itself great rolls of black smoke for the high going out from the
chimney of the ship and the ship erased completely and heard itself only the
sonorous alarms of essential equipament to the navigation and operation of the
ship that had been erased by black out unexpected. I came in quickly in the
gangway and found the pilot trying to do the machine of the helm work, first by
the emergency and anything and soon after by NFU manual, control last resource
of the helm and anything as well. The helm was little dead and did not answer to
the commands, the noise of the alarms was so loud, tried to turn off some and to
phone the commander and anything…The phones simply did not work. I tried the
emergency phone of the machines square, the same did not work. The ship without
government approached dangerously of the right margin. Immediately the commander
arrives to the gangway and take it! tells of the command and gives the first
orientations that the case required. Other crew members arrived to the gangway
awake by the noise of the alarms and by the silence of the machine dead. The
trees to port side of the ship will go increasing of size and there is not
anything that we can do to avoid that, because the ship continues erased. It
tries do the helm work and anything. The machine also does not come in. One of
the seamen leaves running of the gangway for the prow and releases the iron
(anchor)of starboard (right).
The speed of the ship that I was not already high was lowering slowly and the
ship propping itself on right margin in the curve of the bay of Serpa, next to
the Arari’s Mouth, in a place known as Tabocal, distant about 11 hours by ship
until Manaus, until lie building with the prow for port side on top of a small
submerged ravine and the stern a little remoter. Ten minutes after apagão the
ship was already aground in the Latitude bearing = 03 degrees 13,40 minutes
South and Longitude = 058 degrees 12,43 minutes west. Gave to hear better now
the noise of the nocturnal animals of the forest. There was some erased boats
and anchored along the margin next to the ship. With the ship aground the
commander gave beginning to the emergency procedures in case of beaches for the
which ones we are constantly trained. Some crew members went to the prow, other
for the machines square, other for the load control center and another stayed in
the gangway. All of them knew what to do. With the chain hitting hull of the
ship the same went approaching every time itself along the margin. The energy
was reestablished, a fast attempt to activate the machine was tried without
success and crew members of the prow gave beginning to the depths mensurations
along hull of the ship, while another verified possible damages inside the ship,
tanks, compartments, fuel, etc. There happily were apparent internal damages, no
compartment was flooded and the ship was deposited partially on top of a ravine.
The depths mensurations made along hull of the ship indicated how the same was a
little list for starboard side, that was a good signal, because port side depths
were smaller than the ones of starboard side, soon indicated that the ship was
partially aground, just in the part of the prow for port side. The machine of
the helm came back to usually work and with everything under control, around the
03:30 hours the commander with the practiser solved give beginning to the
procedures of floats. First send lift starboard side iron, what it occurred
without problems. I believe that the new release of the iron by the sailor has
been providential because it could have helped to prow to do not enter violently
in land for occasion of the beaches. At this moment directed me to the wing of
port side gangway and prayed with all the faith, in silence, lifting the hands
for God and asking that your angels helped to float the ship. Propped on door
looked at a fixed point of a next tree while the commander gave the machine
orders the reverse, first VERY SLOWLY, after SLOWLY and I noticed in the fixed
point the first centimeters moving by ship itself and screamed , – It is moving
itself!!! HALF FORCE The reverse was given soon after. Just after immediate, by
the radio, of the prow also announced euphoric and infatuated that the ship was
giving reverse gear, helped by the strong stream that I came by to prow of the
ship and feel when he if deglutinate of the mud of the ravine and proceeded
drifting again happy of life and all of us gave a contentment tremendous jump
and scream – OUUUUUTTTT!!!! The commander touched the noisy whistle of the ship
and the animals of the jungle answered all together, bothered by have been
disturbed in your nocturnal sleep. I think they should have screamed –
Eiiiiiiiiiiii!!!! Stop with that noise, already passed of the 22:00 hours, is
silence hour now. In the nearby boats, there was anybody inside anybody
manifested
It was acess the light of port side powerful spotlight scavenging the margin
while the ship moved the reverse and a strong rain solved greet us in the exit
of the margin. The strong light of the spotlight discovered the brilliant eyes
of an alligator in the margin, which sometimes it opened and sometimes and
sometimes it closed them. In the hour in which he opened the eyes we saw two
strong lights as if it belonged to a lantern. That alligator did not seem to be
very satisfied with all that movement breaking the harmony of the place and your
possible activity of seeking food.
And there were us navigating again, towards Itacoatiara, alleviated and glad
around the 04:00 in the morning. And I came back to the wing of the gangway and
lifted the hands, this time to thank God for having liberated us of the worse.
And on the way back to my stateroom knelt me and prayed again…God is
Great!!!!.
We arrive at Itacoatiara around the 06:00 hours, the pilots of the river
disembarked and was given beginning to a rigorous evaluation of the operation
and tightness terms of the ship. It happily was everything usually working and
there were damages. And to the 09:50 hours were already lifting irons bound to
Manaus where we are going to arrive later to the 22:00 hours.
It is worth stress the posture and commander’s leadership of the ship that were
copies, excellent, which acted with dignity, competence, with leadership and
knowledge high spirit, which I knew how to act with correction and determination
of the right way and at the right moment, following all the procedures that the
case required. Immediate also deserves my congratulations because I knew how to
act with optimism and excitement in the hour to floats encouraging to all with
your happiness, by the radio, at a so tense moment. To the Machines Boss and
your personal that brilliantly and in skilled time knew how to do the machines
come back to work. And to other crew members that also knew brilliantly how to
act according to the teachings that receive in the training. And my praises for
God for have in the liberated of this situation.
In my turn at dawn, The ship navigated quietly on Amazonas river, in low speed
because we caught chain against the displacement of the ship and soon after the
whole villa illuminated of Urucurituba New, which is in plateau a kind in the
right margin of Amazonas river. As we go pass close to the villa gave prá see
the houses, cars passing, stores, wharf sheds and a kind. The villa is small and
soon finished and initiate the descent in curve of the bay of Serpa, who
precedes the straight line of arrival for Itacoatiara where the pilots of
Amazonas river would disembark and would go to embark the pilots that would
carry Itacoatiara’s Ship until the mooring to Manaus’ Terminal.
Yours Ptr